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Ser nota 10 ou nota 8?


"O VALIOSO TEMPO DOS MADUROS
Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Tenho muito  mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas... As primeiras, ele chupou displicente, mas ao perceber que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero  estar em reuniões onde desfilam egos inflamados. Inquieto-me  com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Detesto  fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de “secretário geral do coral”.
 'As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos’. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade.Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade. O essencial faz a vida valer à pena. E para mim, basta o essencial!"
Mário de Andrade

 Adoro Mario de Andrade e por coincidência recebi esse texto por email, enviado por uma amiga, a Araceli, uma seguidora deste blog.
 Identifico-me muito com as idéias desse autor e esse texto veio ao encontro de alguns questionamentos que tenho feito sobre a educação, motivados pelo relato de minha irmã sobre o filho de um amigo que foi ao psicólogo por que não admitia perder nas atividades propostas pela escola. Percebi que esse comportamento esquisito ou até absurdo (pelo menos para mim) é mais comum do que imaginamos e como prova, relembro de algumas crianças que já atendi e em algumas pessoas que conheci e conheço.
Hoje parece que só há espaço no mundo para pessoas nota 10, mas existem questões que não podemos deixar de lado. As pessoas que tiram nota 10 na escola obrigatoriamente obterão sucesso? Sucesso só depende da inteligência lógico-racional? E onde fica a capacidade para desenvolver os relacionamentos interpessoais saudáveis? Ser um gênio, obter uma posição de poder ou possuir muito dinheiro, garante felicidade?
Talvez seja preciso rever a finalidade da educação hoje, já que a grande meta é formar pessoas de sucesso e não necessariamente felizes e realizadas ou até boas na arte de convivência. Será que estamos criando um mundo onde há uma guerra explicita e cotidiana para se alcançar o topo e será que não há espaço para felicidade no meio da montanha? Somente o topo é possível e necessário?  Como se as crianças que não tiram 10, não possam ser um excelentes comerciantes, pintores, bailarinos, músicos, psicólogos, artistas, esportistas e etc e pudessem encontra sua realização pessoal.
Deveríamos aprender a valorizar mais os outros tipo de inteligência senão estaremos abafando o potencial de futuros Pelés...
Recentemente assistindo o programa Café Filosófico da Tv Cultura, acompanhei a entrevista com o psicólogo Júlio Groppa Aquino onde ele discursava sobre os problemas educacionais contemporâneos. O entrevistado em seu discurso, citou Jonh Lennon e sua canção feita  para seu filho, chamada Beautiful Boy . Nela ele grifa esse trecho, uma espécie de lição: “...vida é o que acontece a você,enquanto você está ocupado fazendo outros planos...” o que nos leva a  perceber que ao focarmos  apenas na nota 10 e nos planos para o sucesso, perdemos o sabor de momentos ricos e importantes da vida, as amizades construídas na escola, os momentos da semana de arte e cultura, os recreios, as farras na faculdades, dentre outros...planejando um futuro sem garantias.
Júlio acredita  que a educação deve ser realizada sem grandes expectativas pois “o futuro de nosso filhos é puro acidente” e alerta que  “Se a geração presente for exatamente o que esperamos dela, algo de muito sério aconteceu. Nós sufocamos a capacidade deles nos superarem ao subir no palco chamado vida”
Por isso creio que ao prepararmos nossos filhos para se tornarem pessoas notas 10 estamos aprisionando-os dentro de nossas expectativas de sucesso e tirando a oportunidade de saborear as cerejas da vida, de desenvolver sua criatividade para superar os desafios e ainda criarem formas alternativas, desconhecidas por nossa geração, para construir uma sociedade justa e quem sabe mais feliz. Precisamos dar espaço para que nossas crianças sementes germinem sem sufocá-las com nossa sombra, só assim poderemos ver uma floresta talvez mais frondosa e resistente que a nossa. Como o próprio Julio Groppa coloca:” as crianças e jovens não são de cristal” e eu complemento elas as vezes são mais fortes do que nós os adultos e anciãos.
E para finalizar o texto venho deixar meu manifesto: PREFIRO AS PESSOAS NOTA 8 e que as vezes sçao 6,4 , 7 5, 9 ...e por isso em minha vida, parafraseando Mario de Andrade:
“Não quero  estar em reuniões onde desfilam egos inflamados... Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa..quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade.Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade. O essencial faz a vida valer à pena. E para mim, basta o essencial!"

Beijo beijo.

4 comentários:

Seu texto é muito pertinente, Max. A questão é que, cada vez mais, o "mercado" exige os melhores. Se a criança que sua irmã falou está com problemas, é porque alguém disse pra ela que deveria tirar nota 10. Quem será que disse?
Parece que a exigência começa em casa, e depois na própria escola. É isso mesmo?

* Lembro-me que, no meu terceiro ano, o rapaz que era o melhor da sala (ele resolvia problemas de matemática e física que o Professor não conseguia), não passou no vestibular porque zerou em geografia. Por outro lado, a menina que era considerada "louca, louca, louca" (sentava no fundo da sala), passou na UFC, UECE e UNIFOR... e resolveu não cursar nenhuma (pode?). Ela foi fazer uma viagem para o Rio de Janeiro e quando voltasse, resolveria. Hoje, ele é um Gerente Comercial de sucesso de uma grande empresa de alimentos. Ela é uma empresária do ramo de turismo. E estão felizes.

Nós devemos assumir uma postura diante da educação mercadológica que aí está. Devemos ir na direção oposta do individualismo, da competição exacerbada por pódios e o inchaço de egos. Acredito que só assim poderemos colher frutos mais tarde, formando cidadãos e cidadãs mais humanos e conscientes. É isso. Beijo, Beijo.

 

Adorei o texto do Mário (se adequa muito às minhas inquietações). Quanto ao post em si,bem. A questão gira em torno do status quo, que é q se prega nas escolas particulares (claro que não de forma generalizada, sejamos claros), quem tem melhores notas, conquista melhores emprego e ganha mais e melhor para "ser melhor" q os outros. É isso o q eles acham. Pq digo "nas escolas particulares", pq é assim q é (infelizmente), fui aluna de escola particular, meu sobrinho tb é e a conversa foi sempre essa. O do ter e poder (mandar nos outros). A educação em algumas instituições de ensino é p/ o mercado do trabalho e não p/ o mundo do trabalho, que são coisas diferentes. Pelo q vejo, quem educa p/ o mundo do trabalho é a escola pública, que tenta (a muito custo) formar cidadãos, pessoas que estejam preparadas p/ enfrentar o mundo, que saiba exigir seus direitos e praticar seus deveres. Pessoas que tratem as outros como iguais, não como superiores ou inferiores. Que aprendam a viver melhor.

 

Jean e Jana, seus comentários são super pertinentes! Vejam que os meus amigos, melhores alunos na escola, hoje nem sempre são os mais felizes e não necessariamente atingiram o tal topo de sucesso.Tirar boas notas não garante nada. Claro que ser um bom aluno e investir nos estudos faz a diferença, mas não garante nada.O que podemos e devemos é formar cidadãos conscientes e isso sim vai fazer a diferença na postura dos jovens diante o mundo diante as saídas para superar os desafios da vida.
Jana, nós cogitamos colocar nosso filhos em escolas publicas , se entendermos que seus valores são mais parecidos com os nossos. Quero um filho feliz e um cidadão do resto se corre em busca.

 

'As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos’. Incrível! Muitop bom!

 

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