Tudo aqui em casa respira maternidade e como não
poderia deixar de ser, o fundo musical também. Confesso que andava meio cansada
de ouvir aquele pipipi de musiquinhas infantis, mas eis que no dia da criança,
nosso amigo Jean, deu de presente para o Theo o disco da Partimpim da Adriana
Calcanhoto.
Amei porque as musicas com arranjos para crianças
trazem mensagens para adulto nenhum botar defeito. A fantástica Ciranda da
Bailarina de Edu Lobo e Chico Buarque que demonstra de forma bem lúdica que não
há ser humano que não tenha uma escatologia, pereba, defeito, vergonha, medo, dente
sujo de comida, casca de ferida ou remela...rsrs Talvez a bailarina, que acredito
ser uma boneca de caixinha de musica, não tenha, porque não é gente.
Em tempos "Sociedade do
Espetáculo" fazendo uma alusão à Debord que fala que "O espetáculo
não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediada por
imagens" é fácil compreender porque vivemos no real e nas redes sociais sempre
maquiados, impecáveis, onde o cuidado da casca é bem mais importante do que
cuidar do miolo, onde ninguém fala mais dos problemas ou dificuldades para não parecer
fraco e a maioria quer passar a imagem
de que não sofre, não tem dificuldades. Legal então passar a ideia para as
crianças de que todos temos imperfeições. Porque assim será mais fácil para
elas lidarem com os seus obstáculos sejam íntimos ou concretos...
Hoje todos só querem estar na crista da onda,
porque está embaixo dela, processo natural da vida, ficou fora de moda. Conheço gente que viajou para a Europa e passou o maior perrengue, mas isso virou um
segredo guardado a 7 chaves, o mais interessante para eles era mostrar somente os louros
da viagem. Onde foi parar a nossa capacidade de rir das nossas desgraças,
sujeiras, dificuldades e tropeços?
Uma outra faixa do CD chamada SAIBA com letra do
Arnaldo Antunes, é muito bacana porque fala que todos tiveram mães, pais,que todos
foram bebês, todos, inclusive Pinochet, Pelé, Bush, Lao-Tsé, Moisés, Ramsés,
Pelé
Gandhi, Mike Tyson, Salomé...
Gandhi, Mike Tyson, Salomé...
Eis meu trecho preferido:
“Saiba: todo mundo teve medo, mesmo que seja
segredo. Nietzsche e Simone de Beauvoir, Fernandinho Beira-Mar”
Saiba:todo mundo vai morrer, presidente, general
ou rei, anglo-saxão ou mulçumano, todo e qualquer ser humano...”
Fantástico! Além de falar dos processos naturais
de vida e morte, um tabu em nossa sociedade, nos impele a refletir sobre o que
foi feito da existência de cada um. Afinal Gandhi e Pinochet tiveram pai e mãe e o
que fez a diferença na existência de
cada um para que se tornassem conhecidos pelo bem ou pelo mal? Pensar nisso e
nas crianças é pensar na maternidade e na educação. Que mundo estamos
oferecendo a nossas crianças...Vou postar o link das musicas. Degustem meus
amigos!!!