Foram tantos acontecimentos que para dar conta deles eu os matava no peito e seguia driblando a vida com meus passes meios loucos e irreverentes, não esperava marcar nenhum gol, mas apenas administrar diversos sentimentos....felicidade, euforia, ansiedade, medo, frustração, reflexão. Parecia estar numa espécie de transe....meio sem pensar, mas sempre pensando e não chegando a conclusão nenhuma, apenas vivendo. Sentia-me seca ou morta para a escrita...lembrei da Clarice Lispector relatando que quando não estava escrevendo ela se sentia morta e seca.... Não era possível gerar mais nada além de um filho dentro de mim. Isso já demanda muita energia, não é mesmo?
Afinal de contas eu também gerava a mim mesma,
uma nova pessoa...
Isso é fantástico na maternidade. Quando
você gera um filho, seu lado materno também é gerado e com ele você cria uma reconfiguração
da sua vida. Reflete seus planos, suas relações, seu lugar no mundo... Você tem
azia, náuseas, sono, ansiedade, fome , saudades de beber, de correr, de andar
de bicicleta....O que antes era prioridade, hoje não é. Amigos importantes se
tornaram banais...antigos posicionamentos se tornaram fúteis e o que mais
importava, hoje já não importa mais.
Você elabora o luto de partes suas que tiveram
que morrer para renascer outras, além de elaborar o modelo de maternagem que
recebeu. Enfim, é um turbilhão de hormônios junto com esse monte de
mudanças. Você parece um jarro com uma terrinha humilde...adubada com a esperança desse monte de coisas se
organizarem numa espécie de alquimia e assim nascer seu filho e você como uma
nova filha, nova esposa, nova amiga, nova mulher e profissional.
Quando estamos em um furacão de acontecimentos e
aqui no meu caso a maternidade, talvez seja uma boa estratégia, ligar o piloto automático
e seguir, deixar para compreender depois. No olho do furação existe um vazio. Mas
quem disse que no vazio não há beleza? Talvez devêssemos simplesmente, sentir... Porque as coisas irão se acomodar e
só depois de tornarão inteligíveis. Ou não...existem coisas que são simplesmente
para ser vividas e não explicadas...
Se pensarmos a vida como uma viagem perderíamos o hábito de fotografar tudo
para mostrar para os amigos ou para ver depois... Nós trataríamos de degustar cada momento e de contemplar a paisagem. Depois você compreende que são essas sensações
no corpo que ficam na memória...aquela comida maravilhosa, um cheiro inesquecível,
um momento marcante, uma vista de tirar o fôlego, na verdade é isso que fornece
aquela lembrança gostosa da viagem... E as fotos? Dá uma preguiça de olha-las,
organiza-las... São tantas....
Às vezes estamos tão focados no resultado que a
caminhada passa em branco. Rubem Alves já falava sobre isso quando escreveu que
não há prazer em um alpinista em pegar um helicóptero e chegar ao cume da
montanha, para ele, alpinista, o que vale mesmo é a escalada...
Degustemos nossa existencia,nossa maternidade, sem nos importar com os erros ou acertos... eles sempre irão existir e quando a reflexão chegar,se der, deixemos ela se chegar, vamos recebê-la sem cobrança...de
repente ela vai embora sem deixar nenhum significado ou, ela nos presenteia com
um belo insight que mudará nossa vida para sempre. Talvez o importante seja curtir, o sorriso do filho, o dia em que dormiu sozinho, quando sentou, a paciencia que ele nos ensinou a ter, o respeito as exigencias que o seu corpinho nos impõe: a hora do sono,a hora de comer..são tantas as lições que isso nos traz,mas as vezes nem percebemos. Theo me ensino a viver um dia de cada vez, porque um dias tem muitas horas, e dentre as 24 se pode fazer muita, mas MUITA coisa, com ele aprendi a respeitar o meu corpo,porque se estou irritada,pode ser fome ou sono, aprendi ter paciênca com as minhas limitações e a comemorar cada pequena conquista.....a volta ao blog é mais uma.
2 comentários:
Linda reflexão e postagem, amor! Fiquei aqui na reflexão de que existe um prazer intenso na superação. Como você falou, ao escalar uma montanha, o que importa é o caminho. Lembro do prazer intenso que tive ao passar em umas disciplinas terríveis do mestrado. Curioso isso...
E que desafio maior senão o de criar um filho! Eita! Deve ser por isso que nossos pais, quando questionados, não lembram de nada das partes difíceis (e acabam nos preocupando: "-Será que só é difícil comigo?").
São tantos detalhes, e é tanta dedicação por tanto tempo que quase não se vê o final desse desafio, o momento de olhar para trás e ver que valeu a pena.
Lindo post amiga. Saudade de suas reflexões. Estou feliz por sua conquista em voltar ao blog. Conquista pra vc, presente pra mim. Bjs amiga.
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