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Sobre quadrados e bordas...

Numa roda de amigas, uma delas comenta um diálogo que teve com alguém importante:
" Você quer me colocar num quadrado!(Ele disse) E ela responde: e você tira as minhas bordas!"
Esse trecho da conversa teria mais sentido se pudesse expor seu contexto, mas não deixa de ser tão profundo e reflexivo se pararmos para pensar nas coisas e pessoas que nos colocam em quadrados e naquelas que retiram nossas bordas. Eu particulamente sou mais feliz quando tenho uma rotina,disciplina e tenho bem definido o meu quadrado,embora precise de momentos para arrebentar minhas bordas e vivenciar o inesperado, o novo e trasncender. O importante para mim é saber reconstruir o quadrado e poder me encontrar nele.
O quadrado, a rotina, a disciplina e a organização funcionam para mim como uma centralidade, assim tenho foco, sei o que quero, para onde ir e como fazer. Entretanto, a vida presa num quadrado seria sem graça e sem sal, aí reconheço a necessidade de trasncender e olhar novos horizontes...O problema é que quando ficamos sem as bordas e isso acontece quando estamos apaixonados, quando nos relacionamos com pessoas confusas e que nos deixam confusas, ou quando não estamos bem, acabamos por perder nosso rumo e ficamos desnorteados em meio a sentimentos, angústias e não sabemos para onde ir, o que fazer, o que sentir. Várias vezes acompanhei pessoas relatarem a sensação inebriante da paixão e depois pedir desesperadamente para não senti-la, pois já não se reconhecem, precisam de tranquilidade e organização interna. A paixão nesse momento é desconcertante! Tal como uma droga produz uma sensação prazerosa viciante e depois traz  a culpa ou o desespero por ser tomado por um sentimento e não por uma racionalidade. Existem pessoas viciadas no controle da vida, na rotina e na disciplina,outras viciadas na emoção e em fortes sentimentos. Não sei quem é mais feliz: quem tem uma vida previsível e sem sal ou quem não sabe o que acontecerá dentro das próximas 24 horas de sua vida! No amor há aqueles que preferem :"...um amor tranquilo com sabor de fruta mordida.." e há aqueles que preferem a emoção da conquista e da paixão... Confesso que não sei a receita. Talvez a vida seja um eterno construir edesfazer de quadrados internos...Não se vive sem bordas,mas também não há vida num claustrofóbico quadrado... Eis um grande mistério...Penso que existem pessoas que nos ajudam a construir nosso quadrado e outras que adoram romper nossas bordas. De repente se soubermos dosar estes encontros e esta convivência funcionaremos de um modo a contruir e reconstruir  a nós mesmos, de forma contante...ou  talvez seja mais simples sermos autênticos com nossos valores e sentimentos.

Pensemos sobre isso...

beijos

2 comentários:

Maciii,eu prefiro as bordas pois a minha desestruturação inerente pede isso.Concordo que o equilíbrio de retirar bordas e reconstruir quadrados é o ideal.
Me pergunto até onde a idéia da paixão e seus sofrimentos não é algo construído por ser algo mais rico liricamente. Na vida real eu descobri que o amor tranqüilo é o saudável.
Beijos, Beijos!!!!

 

Max, li o teu texto e lembrei de outro da Clarice Lispector:

“Pedrinhas; ele olhava curioso as pedrinhas dos fatos, seculares pedrinhas duras, indeglutíveis, irredutíveis, imperecíveis. Afogado num mar de seixos. (...) Ele tinha ficado preso dentro da construção do próprio passado. Nada jamais tinha saído do mundo, nada jamais tinha entrado no mundo: eram as mesmas pedrinhas de sempre, o jogo sempre estivera feito, e a improvisação era impossível! pois esses eram os elementos – os que já estavam ali – e de repente haviam fechado a porta, e a nada mais fora permitido entrar ou sair. E se, para o futuro, ele quisesse fazer nova construção – teria que destruir a primeira a fim de ter pedrinhas a usar, pois nada mais podia entrar no jogo e nada mais podia sair: o material de sua vida era esse mesmo. Mas, pensou ele, que infinita variação! com as mesmas pedrinhas. Ia-se a uma cartomante, ela baralhava as pedrinhas, uma pedrinha pulava, e ela dizia misteriosa de óculos e cabeleira postiça, antes de morrer de câncer: estou vendo uma pedrinha.
Mas acontece, (...) que com essas pedrinhas algo está pelo menos definitivamente organizado. E nele cabemos. É verdade que às vezes cabemos com um braço paralisado pela construção, ou com um olho fechado pela argamassa endurecida por uma construção que secou depressa demais – mas algo está pelo menos definitivamente organizado, e se nele mal cabemos, a verdade é que cabemos. Que faremos? construiremos com as mesmas pedrinhas outra organização definitiva, derrubando antes a primeira? É verdade que para cabermos na primeira, temos que comer pouco. Pois engordando, não cabemos, e crescendo não cabemos, e ficamos de calças curtas demais, olhando meditativos os pés expostos. Mas tomamos cuidado, é uma questão de tomar cuidado. Oh bem que tomamos muito cuidado. Até que esquecemos como temos ultimamente crescido e engordado – e distraídos damos um bocejo, e a construção fica curta. É o que se chama de mal-estar.”

 

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